21/08/2019 às 05h00
Por Lívia Ferrari | Do Rio
Emissões de bonds no exterior têm sido alternativa do setor siderúrgico para a implementação de programas de renegociação de dívidas, que ajudam a ampliar liquidez das empresas e aumentar capacidade de investimentos. É o caso da Usiminas, que em julho concluiu a precificação dos títulos emitidos no mercado internacional, no montante de US$ 750 milhões, com juros de 5,875% ao ano, a serem pagos semestralmente, e com vencimento em 2026.
Com esses recursos a empresa cumpre programa que inclui, entre outros objetivos, o pré-pagamento integral de sua dívida junto ao BNDES e bancos internacionais, principalmente japoneses; e o pré-pagamento parcial de sua dívida com debenturistas. Além disso, foram feitas alterações nos termos das dívidas, incluindo condições mais favoráveis à companhia.
Para analistas do mercado, a operação de bonds garantiu maior flexibilidade financeira e liquidez à Usiminas. Dias antes da emissão dos títulos no mercado, a agência de classificação de risco Standard and Poor’s (S&P) elevou o rating da Usiminas.
Em meio ao processo de mitigação de dívidas do passado, a Usiminas anunciou investimentos de R$ 800 milhões este ano, que deverão ser realizados com recursos próprios, segundo a empresa.
Também a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN) está ativa no mercado de títulos. A empresa fez emissão de debêntures simples, não conversíveis em ações, no valor de R$ 1,95 bilhão, considerada uma das maiores operações do mercado este ano. A emissão é parte de refinanciamento de uma dívida de R$ 7 bilhões que a CSN tinha com a Caixa Econômica Federal. “A reestruturação permitiu alongar o perfil da dívida e demonstra que existe aptidão e interesse de companhias em acessar mais o mercado de capitais, ainda pouco explorado por elas”, diz Fábio Cascione, do escritório Cascione Advogados, que prestou assessoria jurídica à Caixa no negócio.
Especialistas do mercado dizem que o encolhimento dos bancos públicos nos empréstimos às empresas, principalmente do BNDES, e a maior demanda dos investidores por diversificação de carteira na atual conjuntura de queda de juros têm incentivado a busca de opções de financiamento via mercado de capitais.
O adiamento de investimentos em alguns projetos na siderurgia, devido à retomada mais lenta que o esperado da economia brasileira, também contribui para o baixo patamar dos desembolsos do BNDES, que, no passado, foi responsável pelo financiamento dos grandes projetos do setor.
Em 2018, as liberações do banco estatal de fomento para a atividade siderúrgica somaram apenas R$ 45,7 milhões. Ainda não houve desembolsos em 2019. Considerando o setor de metalurgia e produtos como um todo, os desembolsos do BNDES foram de R$ 446 milhões no ano passado e de R$ 255 milhões até junho. As consultas, de R$ 1,6 bilhão em 2018, somam R$ 471 milhões em 2019.
A assessoria do banco explica que o volume de desembolsos é impactado diretamente pela situação de excesso de capacidade de oferta no mercado siderúrgico brasileiro nos últimos anos. Ou seja, diante disso, não há investimentos em novas adições de capacidade.
Enquanto isso, bancos de investimento, atuantes em operações de emissão de títulos de dívida de empresas no mercado doméstico, esperam um ano de resultados recordes. Eles constatam que as emissões são alternativas que empresas de diferentes setores, inclusive o siderúrgico, estão buscando para se prepararem para financiar planos de investimentos.
As estatísticas da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima) parecem confirmar a tendência. Nos primeiros meses deste ano, as empresas captaram no mercado de capitais doméstico R$ 206,8 bilhões, com aumento de 35% sobre mesmo período de 2018. As debêntures foram os instrumentos de captação com maior participação no volume emitido: 46,4% do total, equivalente a R$ 95,9 bilhões.
Clique aqui para acessar a matéria original.