21/08/2019 às 05h00
Por Lívia Ferrari | Para o Valor, do Rio
Mesmo diante de um cenário pouco animador, o mercado de crédito aposta no fôlego das grandes empresas do setor para tocar investimentos e financiar projetos. Com isso, ganham espaço instrumentos de mercado de capitais, como, principalmente, as debêntures. Segundo dados da Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais (Anbima), de 2013 até o momento, as emissões do setor siderúrgico somaram cerca de R$ 5,8 bilhões, com sete operações de cinco empresas: Usiminas, Siderúrgica Norte Brasil, Votorantim Siderurgia, Gerdau e CSN.
Impulsionadas pelo segmento de mineração, siderúrgicas voltam a registrar lucro em seus balanços. Grandes empresas, que contam com unidades de mineração, são beneficiadas pelo aumento de preços do minério de ferro. Isso ajudou os resultados e contribui para a capacidade das companhias de ir ao mercado e de tomar financiamentos, destacam analistas.
“A alta das cotações do minério elevou as margens de Ebtida, melhorando a relação de dívida liquida e o “rating” de crédito das siderúrgicas”, afirma Fábio Cascione, sócio do escritório Cascione Advogados, especialista no assessoramento a operações no mercado financeiro e de capitais. A relação dívida líquida x Ebtida mede a capacidade de endividamento das companhias.
Com melhoria de ganhos de margem e de redução de alavancagem, aumenta o interesse das empresas do setor de se financiar no mercado local, recorrendo a operações de mercado de capitais, sobretudo diante da perspectiva de queda das taxas de juros.
“Também contribui para isso a redução do protagonismo do BNDES no financiamento a grandes empresas, pelo menos no atual governo”, acrescenta Cascione. Ele lembra que, no mercado interno, o setor, tradicionalmente, acessava o banco estatal de fomento para financiar investimentos.
Os grandes projetos da siderurgia e mineração, com instalação de novas unidades de produção, modernização e expansão de capacidades foram apoiados pelo BNDES. Já no mercado externo, a opção são os financiamentos a exportações e emissões de bonds. “Com a retração do BNDES, as empresas aumentaram interesse no mercado de crédito privado, utilizando instrumentos de debêntures e renda fixa”, constata o advogado.
Também Gabriela E Cortez, analista de siderurgia e mineração do Banco do Brasil, observa que no segundo trimestre, os resultados de grandes usinas vieram melhores do que os do primeiro trimestre, beneficiados pela área de mineração. A receita de mineração, com alta de preços do minério, influenciou os resultados gerais, compensando o desempenho mais tímido da siderurgia. “Desde o ano passado, as siderúrgicas vêm investindo nas atividades de mineração, visando aumento de capacidade de produção e qualidade de produto. Agora, porém, temos visto empresas falando de empréstimos e de novas dívidas para investimentos também na siderurgia, sobretudo em manutenção, diz ela.
Gabriela lembra que com o baixo crescimento da economia, as siderúrgicas cortaram custos e diminuíram investimentos na atividade. Esses últimos anos de Capex reduzido deixou os alto fornos no limite da capacidade produtiva. As usinas agora realizam programas para paradas de manutenção, e investimentos também em inovação. Para isso, elas demandarão investimentos maiores, que deverão ser realizados com recursos da própria geração de caixa da companhia, financiamentos e mecanismo de mercado de capitais.
O mercado observa o aumento de operações de debêntures, e de parcerias entre empresas, com contratos de pré-pagamento à mineração vinculados a fornecimento de minério. Empresas também lançam mão de emissões de bonds, como a realizada recentemente pela Usiminas.
“Assim, elas renegociam dívidas contraídas no passado, o que permite o alongamento do perfil de endividamento.”
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